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Sinopse:
Archer está com T'Pol em seu
gabinete, segurando um livro infantil. A capa mostra a imagem de
uma nebulosa azul --a mesma que aparece no monitor do capitão.
T'Pol abre o livro onde vemos que o jovem Archer, de oito anos,
escreveu seu nome: "Do almirante Jonny Archer".
O painel de comunicação apita e ouvimos a voz de Reed informando
ao capitão que há uma nave se aproximando e que eles estão
chamando. A nave acaba se revelando uma nave de transporte Vulcana,
mas a classe da nave não é usada há muitos anos, segundo T'Pol.
A Enterprise responde ao chamado, e um Vulcano chamado Tavin
aparece na tela. Ele é diferente dos outros Vulcanos, seu cabelo
é muito mais comprido, e suas roupas são mais casuais e ele é
incomumente amigável. Tavin exclama: "É muito bom ver vocês".
A nave Vulcana se
revela uma nave civil em uma missão de exploração. Tavin diz a
Archer que eles não são Vulcanos típicos. Ele pede assistência
nos reparos de sua nave, e Archer concorda. T'Pol está intrigada
pelo encontro e desconfiada, ela não gosta do que está
acontecendo.
Os Vulcanos são convidados a bordo da Enterprise, onde Archer e
T'Pol compartilham uma refeição com Tavin e um de seus colegas
de tripulação, Tolaris --um Vulcano silencioso e sinistro.
Naturalmente, uma refeição vegetariana é preparada para os
Vulcanos. Eles entretanto manifestam mais interesse no frango que
o capitão Archer está comendo.
Tavin revela que eles não estão explorando o espaço, mas um
novo modo de vida. T'Pol percebe subitamente, chamando-os de
"V'tosh ka'tur", que significa "Vulcanos sem lógica".
Tavin diz que eles não deixaram a lógica para trás, mas
simplesmente encontraram um equilíbrio entre razão e emoção.
Ele explica que uma das razões pelos quais eles deixaram seu povo
é porque eles têm o hábito de ficar de olho em outras espécies
ou em qualquer um que discorde deles. Há oito anos no espaço,
mas seu experimento parece ter funcionado.
T'Pol está incomodada com a presença desses Vulcanos, mas Archer
a estimula a acompanhar mais de perto seus colegas --talvez alguns
de seus ensinamentos sejam válidos afinal. A primeiro oficial
relutantemente concorda, e encontra Tolaris no refeitório. Ele
percebe que as emoções de T'Pol estão muito mais perto da
superfície do que o Vulcano médio. Segundo T'Pol, a história
mostrou que os Vulcanos que abraçam suas emoções costumam
reverter a sua natureza primal, e alguns até se tornam
mentalmente instáveis. Tolaris não concorda.
Os
reparos continuam na nave Vulcana, e o engenheiro Vulcano Kov
acaba ficando amigo de Tucker. Os dois passam um bom tempo juntos,
onde contam mais um ao outro sobre suas culturas. Trip revela que
os humanos não são tão bárbaros, e que futebol americano é
apenas um jogo, não um tipo de combate mortal. Kov, por sua vez,
revela detalhes dos costumes reprodutivos Vulcanos.
Enquanto isso, a Enterprise segue explorando a nebulosa. Na ponte,
Reed informa Archer de que há bolsos de turbulência e variações
gravimétricas à frente. A Enterprise entra na nebulosa com a
nave Vulcana atracada na sua lateral. Tavin explica a Archer que
os sensores de navegação a bordo da nave Vulcana são bem
sofisticados, e então Archer manda T'Pol a bordo para reconfigurá-los,
para tomar leituras da nebulosa, o que vai ajudar a Enterprise a
completar a tarefa em muito menos tempo.
A bordo da nave Vulcana, chamada Vaklis, T'Pol fica curiosa ao ver
uma pequena estátua de Surak, depois de eles terem rejeitado seus
ensinamentos. Tolaris diz a ela que eles não rejeitaram seus
ensinamentos, mas discordam de como os antigos os interpretam.
T'Pol admite que medita toda noite e Tolaris pede a ela que não
medite desta vez para ver o que acontece. Ela decide seguir seu
conselho.
A Vulcana tem um sonho estranho, em que revive algo que havia
feito anos atrás em San Francisco. Ela secretamente havia deixado
o complexo Vulcano e ido até um bar, atraída pelo jazz que
tocavam lá dentro. Sua sequência de sonhos se mistura a cenas em
que ela aparece tendo uma relação sexual com Tolaris. Ela acorda
perturbada e vai à enfermaria. Phlox dá a ela um medicamento que
ajude a combater os sintomas de perturbação que ela está
sentindo após a experiência.
Na Enterprise,
Archer é contatado pelo almirante Forrest, que passa adiante um
pedido do Alto Comando Vulcano. Eles querem que o capitão peça
ao Vulcano Kov que contate seu pai, que está à beira da morte.
Archer tenta convencer Kov a contatar Vulcano, mas o engenheiro se
recusa, dizendo que já disse adeus a seu pai, que o teria
rejeitado anos atrás, há muito tempo. Archer pede então a Trip,
que se tornou amigo de Kov, que tente convencê-lo. Os dois também
conversam sobre a amizade de T'Pol com Tolaris. O capitão mesmo
havia incentivado sua primeiro-oficial a conhecer os visitantes,
mas agora está incomodado com a proximidade dos dois. Tucker
chega até a dizer que, se não o conhecesse, diria que ele está
com ciúmes.
No refeitório, vemos T'Pol contando a Tolaris sobre sua experiência
após não ter meditado na noite anterior. O Vulcano acredita que
pode mostrar a T'Pol como canalizar seu sentimentos quando eles
chegam. De volta a seus aposentos, Tolaris mostra a T'Pol como
experimentar ansiedade, entre outras coisas. Ele diz a ela que o
elo de mentes Vulcano, que ele descreve como uma antiga técnica
mental abandonada há séculos, não é tão perigoso quanto lhes
é ensinado, e que é uma experiência bem libertadora. T'Pol
acaba concordando em realizar um teste.
Tolaris então se une a T'Pol. Aos poucos, a Vulcana começa a se
sentir violentada pela agressividade do contato mental de Tolaris
e pede para parar. Ele fica impassível. T'Pol pede que ele saia,
mas ele agarra seu braço trazendo-a para perto. T'Pol então se
liberta e o atira para o outro lado da sala. Tolaris então dá a
T'Pol um frio olhar e sai da sala. T'Pol está abaladíssima, e se
arrasta até a mesa para contatar a enfermaria.
Enquanto isso, Trip está tentando convencer Kov a ligar para seu
pai. A princípio, o Vulcano declina novamente, mas acaba
concordando que é o melhor a fazer. No gabinete de Archer, o
capitão convoca Tolaris. Em princípio ele se apresenta amistoso,
mas depois parte para cima do Vulcano, questionando sobre o que
ele fez a T'Pol, que está na enfermaria com possível dano neurológico.
Tolaris se torna agressivo e atira o capitão, que rapidamente
saca uma pistola de fase e coloca o Vulcano para fora.
Enquanto os Vulcanos partem, T'Pol está se recuperando em seus
aposentos. Archer vai visitá-la e diz que agora entende o porquê
de os Vulcanos terem suprimidos suas emoções. Em contrapartida,
T'Pol admite sentir inveja do capitão por ter sonhos agradáveis
a maior parte do tempo, sem precisar de meditação antes de
dormir.
Comentários:
Eu não costumo ter estômago sensível a falhas de
continuidade, mas "Fusion" apresenta problemas. Não
pela série em si, e sim pelo que precisamos desconsiderar em
termos de história pregressa de Jornada nas Estrelas para
engolir o conteúdo que nos é apresentado.
Que há
Vulcanos rebeldes, que não aceitam a tradição da supressão das
emoções, nós já sabemos --e o episódio respeita isso. Que
esses Vulcanos não costumam ficar muito tempo em seu mundo natal
e não são aceitos por seus pares, também já sabemos. As duas
informações vêm da pior fonte possível, "Jornada nas
Estrelas V: A Última Fronteira", mas são canônicas,
temos de aceitar.
Agora, é um absurdo retratar o elo de mentes --já praticado em
tela várias vezes até por Vulcanos inquestionavelmente
conservadores, como o embaixador Sarek-- é uma técnica antiga
abandonada há séculos. Se o elo de mentes fosse um tabu tão
grande em Vulcano, seria difícil de imaginar que em apenas um século
ele subiria as escadas do hit-parade para se tornar uma marca
registrada da espécie.
Ademais, muitas outras tradições da cultura Vulcana estão
ligadas a contatos telepáticos, como o próprio casamento
arranjado, que T'Pol revelou (em "Breaking
the Ice") ter participado. E quanto à técnica que a
Vulcana aplica em Hoshi para acalmá-la em "Sleeping
Dogs"? Se aquilo não foi um parente do elo de
mentes, não sei dizer o que foi...
Como se não
fosse suficiente essa bagunça com o elo mental Vulcano, esses
rebeldes falam abertamente de seu ciclo sexual de sete anos. Não
que eles devessem estar presos pelas mesmas amarras de seus amigos
não-emotivos, que jamais falariam disso, mas é difícil explicar
que um conhecimento adquirido há cem anos por humanos sobre os
costumes de seu principal aliado na Federação seja totalmente
desconhecido por Kirk, quando seu amigo Spock entra no Pon Farr.
Mais que isso, McCoy, na condição de médico, certamente deveria
saber algo a respeito. Entretanto, em "Amok Time",
nenhum dos dois sabia de nada disso.
Não adianta nada ficar colocando citações engraçadinhas de
nomes que apareceram nas outras séries de Jornada, se as
histórias em si não obedecem a uma lógica cronológica. Entre
forma e conteúdo, fico com o último todas as vezes. E o que é
apresentado em "Fusion" a respeito dos Vulcanos não
faz o menor sentido, na maior parte do tempo.
Há entretanto alguns detalhes interessantes. É curioso, por
exemplo, que haja múltiplas interpretações para os ensinamentos
de Surak. Isso mostra que o pensador e pai do modo de vida Vulcano
não é tão maniqueísta quanto parecia ser. Dá certos tons de
cinza à cultura e aos costumes Vulcanos após a "Iluminação"
que certamente caem bem.
Tudo isso acima mostra os problemas e acertos que o episódio tem
com relação ao conjunto da obra de Jornada --fator que se
torna preponderante em episódios como este, que pretendem versar
sobre uma das espécies mais conhecidas do franchise. Olhando de
outro ponto de vista, considerando apenas o histórico de
Enterprise, "Fusion" cai até bem.
Operando em seus próprios termos, o episódio consegue apresentar
um enredo de forte potencial para o desenvolvimento de T'Pol.
Jolene Blalock não desaponta e traz possivelmente sua melhor atuação
em toda a temporada. Suas cenas com Enrique Murciano (Tolaris) são
especialmente poderosas, e conseguem deixar o telespectador
interessado, apesar dos clichês e do óbvio desenrolar da história.
A relação
de Trip com Kov é igualmente cativante, e igualmente previsível.
Na verdade, só há uma coisa que surpreende: Archer finalmente
mostra com propriedade por que é o capitão da Enterprise. Sua
confrontação com Tolaris é sensacional, e Bakula consegue
recuperar aqui o tom ácido e dinâmico que só deu o ar da graça
antes em "Broken Bow"
--onde o capitão também confrontava Vulcanos pouco amistosos.
Em termos de contexto da série, o episódio claramente tem duas
funções. Mostrar aos humanos que há um boa razão para os
Vulcanos serem o que são, lógicos e disciplinados, e mostrar a
T'Pol que ter emoções, contanto que elas estejam sob controle,
pode ser algo extremamente positivo. As duas conclusões são
exatamente o que levará humanos e Vulcanos a um entendimento para
a fundação da Federação, e são, portanto, temas centrais da série.
Pena que eles sejam atirados aqui de forma tão óbvia. Sutileza
às vezes cairia bem.
Do ponto de vista técnico, "Fusion" apresenta
algumas inovações interessantes, mais na parte sonora do que
visual, proporcionadas pelo sonho de T'Pol e pelo elo mental com
Tolaris. Também contradiz o tom da série em termos de ritmo,
mostrando-se um episódio muito mais lento do que a média de Enterprise.
Por fim, o tom mais sexual dá outro diferencial, mas não chega
nem perto de ser ofensivo ou agressivo demais para a audiência da
série. Não é realmente inovador para quem já viu "The
Price" ou "Sub Rosa" (ambos da Nova
Geração).
No fim, entretanto, tudo se resume a mais um episódio que é
filmado quase 100% dentro da Enterprise, o que certamente garantiu
mais economia aos produtores. As tomadas externas da Enterprise e
da nave Vulcana são espetaculares, mas não servem a nenhum propósito
exceto o de fazer transições entre cenas. De resto, um episódio
dramaticamente desafiador para os atores convidados e Blalock, mas
pouco enriquecedor no contexto do background sobre os Vulcanos.
Mais complica que explica.
T'Pol saiu ganhando, mas não havia um meio menos bagunçado de
produzir essa história, sem chutar o balde da continuidade? Sybok
explica...
Citações:
T'Pol - "Just
because they smile and eat chicken, it doesn't mean they've
learned to master their emotions."
("Só porque eles riem e comem frango, não quer dizer que
aprenderam a dominar suas emoções.")
Tucker - "They're not trying to kill the quarterback!"
("Eles não estão tentando matar o quarterback!")
Tucker - "If I didn't know better, I'd say you were a
little jealous."
("Se eu não te conhecesse melhor, diria que está com ciúmes.")
Tucker - "Regret is one of the strongest emotions --and
one of the saddest."
("Arrependimento é uma das emoções mais fortes --e uma das
mais tristes.")
Archer - "I think I finally understand why."
("Eu acho que finalmente entendo por quê.")
Trivia:
Este episódio tinha como nome original "Equilibrium". O
nome foi trocado porque era o mesmo de um episódio do terceiro
ano de Deep Space Nine. Antes de "Equilibrium", a
história era chamada pelos produtores de "Untitled T'Pol
Seduction" (Sedução de T'Pol Sem Título).
As primeiras versões do roteiro eram muito mais sexuais do que o
que foi filmado. T'Pol apareceria tomando um banho de cachoeira e
Tolaris forçaria a Vulcana a participar do elo de mentes.
Phyllis Strong e Mike Sussman são grandes fãs de Jornada,
pelo que se vê de seus roteiros. Aqui eles inserem uma referência
à Academia de ShiKahr, cidade mencionada em "Yesteryear",
da Série Animada, como sendo a capital Vulcana. Além
disso, as primeiras versões do roteiro continham também uma menção
do Monte Seleya, visto em "Jornada nas Estrelas III: À
Procura de Spock".
John Billingsley chegou a comentar o episódio em uma entrevista.
"Temos um episódio vindo aí em que... eu não diria um
bando de Vulcanos renegados, mas um grupo separatista que acredita
que é possível ser mais disponível às emoções do que a
maioria dos Vulcanos é chega a bordo e então tenta convencer
T'Pol de seu modo de pensar, com resultados calamitosos."
"Temos um episódio vindo aí em que T'Pol fica indecente com
um Vulcano. E é um show realmente sexy", disse Brannon Braga
sobre este episódio. "Vamos encontrar alguns Vulcanos que
estão tentando colocar emoções em suas vidas. E T'Pol vai se
emaranhar em uma história de sedução, como um 'Nove Semanas e
Meia de Amor' Vulcano."
Dos três personagens Vulcanos criados para este episódio, apenas
Kov permaneceu com o mesmo nome do início ao fim. Tolaris, nos
primeiros roteiros, se chamava Szon, e Tavin se chamava Tyrus.
Robert Pine já fez uma aparição anterior em Jornada,
como o embaixador Liria em "The
Chute", de Voyager.
Vaughn Armstrong, com sua coleção de papéis alienígenas em Jornada
nas Estrelas, faz sua quarta aparição como almirante Forrest,
e a quinta na série (contando sua ponta como o capitão Klingon
de "Sleeping Dogs").
Ficha
técnica:
História de Rick Berman
& Brannon Braga
Roteiro de Phyllis Strong & Mike Sussman
Direção de Rob Hedden
Exibido em 27/02/2002
Produção: 017